sábado, 3 de março de 2012

Semana do Poder Feminino - Mother Índia




Quando comecei a pesquisar sobre a Índia, um filme que frequentemente era citado era Mother Índia (1957), um épico cheio de simbolismos, que tornou -se uma lenda por causa das atuações fantásticas nele. Este filme foi considerado um remake de "...E o vento levou", mas as semelhanças estão mais na força da atriz principal, que é o motivo pelo qual estou  escrevendo hoje, Nargis é uma das figuras mais queridas e admiradas da Índia.








Eu assisti ao filme, que está disponível na Comunidade Quero Cinema Indiano no Brasil, com a pretensão de aprender um pouco mais desse mundo mágico que é Bollywood e um pouco mais da “Mãe” Índia, essa terra com tantas lutas e um povo tão guerreiro.






Eu sabia que era um clássico e estava super curiosa porque li muito sobre o filme e toda repercussão que teve na Índia na época ate pelos enganos como por exemplo o fato de que quase proibiram o filme porque pensaram ser baseado no livro Mother Índia de Katherine Mayo. O livro que falava do machismo, do tratamento que as mulheres da Índia têm, antes de se casarem, por seus pais e algumas são até mortas quando nascem e depois do casamento se tornam uma espécie de escrava. Fala também sobre os intocáveis, os mal tratos aos animais, a sujeira das ruas, do caráter de seus políticos e destacou o que ela chamou de sexualidade galopante dos indianos. Então esse livro foi queimado na Índia e algumas figuras importantes escreveram criticas sobre isto, inclusive Ghandi. As autoridades indianas pediram o roteiro do filme, quando o diretor começou a produzi-lo, por medo de ser baseado no “maldito” livro de Mayo, mas na verdade o diretor falou que o filme é meio que uma resposta a esse livro, mostrando a verdadeira Índia.




Li um comentário sobre esse filme que dizia para prestar atenção aos simbolismos, então de cara reconheci a figura da mãe como a Índia e seus filhos como toda a sua enorme população: os filhos da ÍndiaUm desses filhos é Ramu (Rajendra Kumar), conformado e segue todos os preceitos e aceita tudo, enquanto o outro é Birju, filho revoltado, não aceita injustiças, quer aprender a ler, quer saber o porquê de tudo e desde pequeno já se nota que ele não concorda com o que está acontecendo à sua volta e é castigado por se rebelar a todo momento. 






Imaginem que a caixa de pandora foi aberta e tudo de ruim sai da caixinha e todas elas acontecem com essa família, passar fome é só um detalhe. No final de todo esse drama acontece algo que eu penso que o diretor queria dizer que com sangue, e sob sangue, a Índia cresceu e produziu bons frutos e surgiu como uma terra que cuida melhor de seus filhos. 







Nargis passa o filme todo mostrando que não basta ser mulher nesse mundo, você tem que ser mãe e se precisar passar fome para que seu filhos possam comer, que assim seja.






Tem que ser trabalhadora, dentro de casa, e fora dela também, porque somos capazes de fazermos tudo o que quisermos e, na maioria das vezes, muito melhor que muitos homens.




Não basta ser mulher, tem que ser feita do mais puro amor para lidar com a vida. Ela educa não só seus filhos, mas todos que passam em sua vida...esse poder de troca que temos e que ninguém passa por nós sem levar um pouquinho de nós e aprender algo. Aprendi muito quando parei de falar e comecei a ouvir as "gurumaas" de minhas vida..."hay que endurecerse, pero sin, perder la ternura jamás".







Adoro quando algum amigo me pergunta: "mas vocês mulheres parecem ser feitas de outra matéria, do que vocês são feitas?" Eu respondo que somos feitas do pó que são feitas as estrelas...hehehe.






Momento Pyaar


Nas gravações desse filme o set pegou fogo de verdade e a atriz Nargis correu risco de vida, e quem a salvou foi Sunil Dutt, que estava representando um dos filhos dela no filme. Ele pegou uma coberta, entrou no meio do fogaréu e tirou ela de lá sã e salva. Eles se apaixonaram na vida real e se casaram, e eu virei fã dele para sempre. Isso é que é herói.










4 comentários:

  1. Nossa Alice, que comentário lindo! Me incentivou a ver esse filme, sempre deixo ele pra trás tadinho...acho que não merece isso.

    Seu último comentário me lembrou aquela cena de Om Shanti Om em que o OM (SRK) é um figurante e salva a Shanti (Deepika) do incêndio de uma cena, se não me engano o diretor (ou alguém) o chingou falando que aquilo não era Mother Índia e ele não conquistaria a atriz...rsss. Foi divertido!

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  2. Nem desconfiava que fosse um remake de "...E o vento levou".

    Não é qualquer uma que mantém certa serenidade ‘comendo o pão que o diabo amassou’. Nargis foi muito guerreira no filme.

    Linda comparação: “(...) somos feitas do pó que são feitas as estrelas...hehehe.”

    Sunil Dutt my hero!!!

    Raquel.

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  3. *Altos níveis de spoiler*

    Nem preciso falar que sou super fã da Nargis. A força que essa mulher exala em Mother Índia é incrível!! Pense que todas as mulheres da Índia enviaram sua forças e dedicação para a representação de uma só mulher? Pensou? pronto essa é a Mãe Índia! E acho que o que fortaleceu ela foi a força de mulher e o desejo de salvar seus filhos. Lembre-se que apesar da fome e da pobre que assolava aquela casa, ainda tiveram que lidar com o abandono do marido e a morte de uma sogra que a apoiava. E ele a abandonou não porque ela era uma mulher que o envergonhava, mas sim por que ele achava que ela estava sendo envergonhada pela situação dele. Gente, que homem é esse, na Índia, que abandonaria sua mulher por ser um fardo pra ela?? Definitivamente acho que ele só existe no filme. Por que como todos sabemos a Índia é assolada, até mesmo hoje, pelo machismo e mesmo que o homem seja um fardo, eles acham que é obrigação dela suporta-lo mesmo quando ela não o aguenta mais. Prezo muito o casamento, como instituição, mas não acho que ele deva ser uma prisão por ambas partes. E o que acho lindo na Radha e no Birju é esse união mesmo quando o momento é o mais difícil, só fico triste por ele tê-la abandonada, não percebendo que ela iria sofrer.

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  4. A Radha é uma das personagens mais icônicas do cinema indiano, gosto muito de como é destemida. Agora, tem uns pontos sobre o Birju que lembro muito por alto, mas incomodam. Eu o vejo como aquele inconformado que toda sociedade precisa ter. Ok que era louco e queria sair por aí a fazer o que bem entendesse, mas os apertos pelos quais sua família passou foram ABSURDOS. É certo que a gente tem que ir lidando com muita coisa de que não gosta para se virar nesta vida, mas gostei de vê-lo profundamente incomodado por ter de lidar com aquele velho sujo, por exemplo.

    Sara, em Deewaar também há um abandono de esposa. Vejo essa questão de um modo bem machista: o problema dele não é ser um fardo, mas sê-lo para a esposa. É como se depender dela fosse um atestado puro de incapacidade e diminuição da sua masculinidade. Duvido que ele faria esse drama todo se, por exemplo, os filhos fossem um pouco maiores na época do acidente e sustentassem a família a partir de então. Mas sentir que a Radha alimentava a família era humilhante demais para o maridão maneiro. Esse povo deixa machista até o que era para soar meio altruísta.

    Mother India traz uma cena forte de idealização tanto do país quanto da mulher naquela cena em que a Radha não "se vende" ao velho para alimentar os filhos. Mas ao mesmo tempo, mostra que o caminho honesto não é dos mais fáceis e que a mulher está capacitada para trilhá-lo. Só queria que ela tivesse arrumado outro homem e fosse tudo muito legal, mas já estou querendo demais...hahahaha!

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